Após tumulto e muito bate-boca em plenário sobre o modelo de votação, voto a mais na urna e a desistência de Renan Calheiros (MDB-AL), Davi Alcolumbre, 41, (DEM-AP) venceu a eleição e assume a presidência do Senado neste sábado (2). Aliado do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), Alcolumbre assumirá o comando da Casa pela primeira vez.
O senador foi eleito com 42 de um total de 77 votos — os senadores Jader Barbalho (MDB-PA), Eduardo Braga (MDB-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Maria do Carmo (DEM-SE) não votaram.
Alcolumbre venceu a disputa contra os senadores:
• Espiridão Amin (PP-SC) – 13 votos
• Angelo Coronel (PSD-BA) – 8 votos,
• Reguffe (Sem partido-DF) – 6 votos
• Renan Calheiros (MDB-AL) – 5 votos
• Fernando Collor (Pros-AL) – 3 votos
A votação foi com voto secreto, registrado em cédulas, após decisão do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli. Mas alguns senadores anunciaram a escolha enquanto depositavam as cédulas nas urnas.
Amin ficou em segundo lugar com 13 votos. Coronel conseguiu oito votos, Reguffe ficou com seis e Collor, com três votos. Renan, apesar de não estar mais concorrendo, foi votado por cinco colegas.
Principal adversário de Alcolumbre na disputa, Calheiros desistiu da presidência em meio à segunda votação para a escolha do presidente da Casa. A primeira foi cancelada porque alguém depositou mais de uma cédula na urna.
Renan reclamou do fato de alguns senadores terem declarado em quem estava votando — o STF havia determinado votação secreta.
Ele afirmou que “esse processo não é democrático”. “Então, para demonstrar que esse processo não é democrático, eu queria lhes dizer que o Davi [Alcolumbre] não é Davi, o Davi é o Golias. Ele é o novo presidente do Senado porque eu retiro minha candidatura. E eu não vou me submeter a isso”, disse, em tom inflamado.
Antes de Renan anunciar a decisão, o senador Flávio Bolsonaro depositou seu voto e anunciou que havia desistido de exercer o direito do voto secreto. Ele anunciou que havia escolhido Davi Alcolumbre (DEM-AP), principal rival de Renan.
Após a desistência de Renan Calheiros alguns adversários de Alcolumbre, como o senador Esperidião Amin, tentaram fazer com que a votação foi cancelada e reiniciada novamente, mas os colegas da mesa diretora, que comandavam o processo, não concordaram.
Apesar da decisão de que o voto seria secreto, muitos senadores foram ao microfone declarar o voto e até exibiram as cédulas para as câmeras.
Os senadores Major Olímpio (PSL-SP), Simone Tebet (MDB-MS) e Alvaro Dias (Podemos-PR) também desistiram da disputa, ainda antes da primeira tentativa de votação. Na sexta-feita (1°), Tasso Jereissati (PSDB-CE), considerado um dos principais opositores da candidatura de Renan, já havia declinado da sua candidatura.
A sessão para escolher quem comandará a presidência do Senado pelos próximos dois anos se iniciou na tarde de sexta, mas, após impasse, foi suspensa e retomada neste sábado.
TUMULTO SOBRE VOTO ABERTO
Alcolumbre foi um dos protagonistas das confusões de sexta sobre como seria a votação para eleger o presidente da Casa. O regimento interno do Senado prevê que a votação seja secreta. No entanto, questões de ordem foram apresentadas por senadores do bloco de oposição a Renan para que o pleito fosse aberto.
Após entrevero na sexta, Davi Alcolumbre recebe flores enviadas por Kátia AbreuImagem: Marcos Oliveira/Agência Senado
Eles alegaram que a população tem o direito de saber em que o parlamentar votou e o princípio da transparência nas ações tomadas em plenário.
A discussão para decidir se a votação para a escolha da Presidência do Senado seria ou não secreta também estava diretamente relacionada com a candidatura de Renan. Parlamentares que apoiavam o seu nome acreditavam que, se a votação fosse secreta, como manda o Regimento Interno da casa, Renan teria mais chances de vencer a disputa.
Por outro lado, os partidários das candidaturas contrárias à de Renan dizem acreditar que se a votação fosse nominal e aberta, menos parlamentares se sentiriam dispostos a votar em Renan.
Antes do início da sessão, no plenário, funcionários do Senado apostavam que, ao contrário, se a votação fosse aberta, o presidente interino Davi Alcolumbre seria o vitorioso no primeiro turno. Diversos senadores contra o voto explícito questionaram o interesse de Alcolumbre em presidir a sessão tendo intenção de se candidatar ao posto da presidência para suposto benefício próprio. Ele chegou a ficar sentado por sete horas na cadeira da presidência para não correr riscos de ser substituído.
Sob tumulto e protestos –com direito a um “roubo” da pasta de Alcolumbre por Kátia Abreu (PDT-TO)–, o parlamentar do Democratas acabou acatando a questão de ordem e promoveu votação para escolher como seria o formato do voto à presidência.
Por 50 a 2, o voto aberto ganhou, mas criou-se um impasse. Os senadores contrários ao voto aberto e que rejeitaram a consulta anterior sobre como se daria a votação à presidência não aceitavam mais a condução dos trabalhos por Alcolumbre.
“Vossa excelência chegou 10h, sentou na mesa, presidiu a sessão. Tirou os mais idosos. Tirou o [Sérgio] Petecão, segundo suplente. Depois transformou uma sessão preparatória em sessão deliberativa, demitiu o Bandeira, que é secretário-geral da Mesa. Isso é um ato administrativo. Com que poder? Se vossa excelência pode tudo isso, quem sou eu, o Renan, Cavalo do Cão?”, disse Renan Calheiros.
Os senadores buscaram um acordo, pois o presidente interino disse que só sairia da mesa para ser substituído por José Maranhão (MDB-PB), aliado de Renan, se este não revogasse a definição da votação aberta. Após cinco horas de sessão e nenhum consenso, dois senadores apresentaram questões de ordem para que os trabalhos fossem suspensos e retomados no dia seguinte. Eles alegaram que não havia mais clima para realizar a escolha do novo chefe da Casa depois de um longo debate sobre o voto aberto ou fechado.
A sessão deste sábado foi comandada por Maranhão, que cumpriu a decisão de Toffoli, criticada por senadores que desejavam o voto aberto.
Uol
@politicaetc